No manto da noite amiga,
Ouve esta velha cantiga,
Guarda no peito a canção
Da calhandra do caminho,
Que errava sem ter um ninho
Na verdura de Aragão.
A pobrezinha vivia
Numa perene agonia,
Em dolorosa mudez;
Era a Imagem da saUdade,
Nos andrajos da orfandade.
No luto da viuvez.
Mas, em certa primavera,
A pobre, que andava à espera,
Reparou, findo o arrebol,
Que chegava de mansinho.
Olhos cheios de carinho.
Seu amado — o rouxinol.
Desde essa hora divina,
A calhandra pequenina,
Que errava de déu em déu,
Enfeitou-se na vitória,
Encheu-se de vida e glória,
Cantando no azul do céu.
Brincava na paz da fonte,
Ia ao longe, no horizonte,
Sob o sol, sob o luar.
Fôsse noite, fôsse dia,
Transbordava de alegria,
Nas penugens do seu lar!
Mas, um dia, o companheiro
Deu-lhe o olhar derradeiro
Da bôlsa de um caçador!.
A calhandra infortunada
Tombou sem vida na estrada,
Na angústia do seu amor.
No manto da noite amiga,
Ouve esta velha cantiga,
Guarda no peito a canção
Da calhandra do caminho,
Que errava, sem ter um ninho,
Na verdura de Aragão.